O destino dos destinos

Toni Sando fala de turismo com propriedade. E tal capacidade surgiu de uma combinação nada ordinária: bagagem acadêmica sólida, experiência invejável em gestão em grandes empresas, habilidade de escuta e um cavalheirismo a toda prova que lhe abre todas as portas. Observador atento, analisa mercados e traça cenários com forte precisão. Ouvir suas observações sobre a indústria é fundamental para quem trabalha com viagens. Ao entender, como poucas pessoas na América do Sul, de marketing de destinos, acompanha, de perto todos os equipamentos da cadeia turística.

Toni Sando - Presidente Executivo da Fundação 25 de Janeiro – São Paulo Convention & Visitors Bureau e Presidente da UNEDESTINOS – União Nacional dos CVBs e Entidades de Destinos. É membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, dos Conselhos de Turismo Nacional, Municipal e Estadual de São Paulo e 1º Vice Presidente do Latinoamérica y El Caribe Convention & Visitors Bureau

Nesta conversa, Toni fala sobre o futuro próximo. A retomada já começou, mas vai exigir paciência na recuperação das perdas acumuladas. Aumentar preços vai afastar o cliente, ainda que haja forte demanda reprimida. Ele que já viajou muito pelo mundo confirma: nossos destinos não deixam nada a dever para concorrentes estrangeiros.  É preciso integrar as ofertas, orquestrada por gestores de destinos.  Todos sabemos que hoteleiros dependem das estratégias de promoção e captação de eventos dos destinos. Daí que suas percepções, enquanto presidente da Unedestinos, devem servir de base para reflexão imediata.

O executivo é administrador de empresas com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Atuou no mercado financeiro em operações, marketing e produtos, no Grupo Accor, como Gerente Geral de marketing para a América do Sul.

Atualmente é o Presidente Executivo da Fundação 25 de Janeiro – São Paulo Convention & Visitors Bureau e Presidente da UNEDESTINOS – União Nacional dos CVBs e Entidades de Destinos. É membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, dos Conselhos de Turismo Nacional, Municipal e Estadual de São Paulo e 1º Vice Presidente do Latinoamérica y El Caribe Convention & Visitors Bureau.

Blog Hospitalidade Brasil: Você é referência quando se fala em marketing de destinos. Nesta posição, que balanço, ainda que parcial, faz dos últimos 16 meses?

Toni Sando: Foi um período em que os setores, em sua grande maioria, tiveram que repensar seus modelos de negócios, tanto para os segmentos que tiveram mais oportunidades de crescimento, quanto para os que precisaram se reinventar focado na sobrevivência.

Os destinos precisaram pensar na estratégia em diversas etapas:

  • em como promover os cuidados com a pandemia;
  • em como se relacionar com os visitantes que já tinham viagem programada e paga;
  • em flexibilizar adiamento, cancelamentos e futuras reservas;
  • se posicionar mesmo antes da retomada, para que se mantenha como objeto de desejo dos viajantes nacionais e internacionais;
  • acompanhamento junto aos órgãos governamentais e entidades representativas dos decretos e MPs que impactaram no turismo;
  • alinhamento com as tendências do retorno das atividades, como o turismo de curta distância e curtir finais de semana na própria cidade em que reside, aproveitando os hotéis;
  • o trabalho remoto fora de casa e mais.
  •  
  • Foi um período de muita experimentação buscando caminhos para viabilizar a manutenção das operações, fortalecimento para atender as demandas pós-crise e reinvenção na forma de atuação.

BHB: Como se dará o segundo semestre de 2021 para o turismo brasileiro?

TS: É muito promissor para quem sair da crise de forma “saudável”. Há uma parcela significativa da população que poupou durante a pandemia e que está disposta a investir em viagens. No turismo de lazer, é a hora de mostrar que o Brasil não deve nada a nenhum destino internacional, o que pode acarretar resultados em médio e longo prazo.

Tudo depende em como será a experiência do visitante e um bom trabalho de comunicação e promoção constante.

BHB: E no caso de 2022?

TS: Ainda mais. A vacinação deve entrar no calendário do brasileiro e a confiança para o turismo será fortalecida. A normalidade, no que se refere à saúde pública, deve ser retomada.

Será o momento de estabelecer as tendências que vieram para ficar, descartar as medidas que foram paliativas, e focar em promover os destinos brasileiros internamente e globalmente, seguindo com mais investimentos em comunicação e infraestrutura.

BHB: Como você vê a retomada dos grandes eventos?

TS: Estamos presenciando, em São Paulo, a realização de alguns eventos-testes que vão ser fundamentais para traçar o caminho da retomada das feiras, congressos, simpósios, campeonatos, festivais… Trazendo a segurança em primeiro lugar, com os protocolos bem estabelecidos.

Com o sucesso dos eventos programados para esse ano, como o Grande Prêmio São Paulo de Formula 1, além do avanço na vacinação, a confiança tende a retornar.

BHB: Sugestões para os destinos acelerarem a retomada?

TS: Promoção e criação de produtos. O primeiro, é um dever até quando estamos fora de um período de crise. Todos precisam saber dos atributos de um destino, suas vocações. O segundo, é preciso ter facilitada a experiência de compra, de forma moderna e personalizada.

Uma boa plataforma unificada do destino, na qual o visitante pode se informar, criar o desejo da viagem, e ter em mãos os serviços que pode contratar.

BHB: De que modo os equipamentos e operadores podem ajudar na recuperação do setor?

TS: União e ações integradas. Em um momento delicado como este, se cada um for para o lado, os resultados serão pulverizados e podem se encolher frente a outros destinos mais bem estabelecidos.

Oferecer bons preços, sem a ansiedade de recuperar o valor perdido durante a crise, integrar produtos e oferecer, junto a conteúdos instigantes, aos potenciais visitantes pode ser um caminho promissor.

BHB: Como foi que a Unedestinos e a a Visite São Paulo enfrentaram a pandemia?

TS: Ambas trabalharam muito no diálogo com o poder público e no fortalecimento de pautas que geraram decretos, medidas provisórias e projetos de lei que foram essenciais para a sobrevivência de muitos segmentos do setor, buscando isenção de taxas, linhas de crédito especiais, renegociações, benefícios emergenciais, além de flexibilização das relações trabalhistas junto aos sindicatos.

O Visite São Paulo ainda produziu uma série de vídeos, em conjunto com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas, com apoio institucional da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, sobre os protocolos da saúde, higiene e bem-estar, além de sempre reunir seus associados para a troca de boas práticas e para gerar oportunidades, mesmo com a crise, a partir do entendimento das regras de flexibilização vigentes.

No período, lançou um novo site, focado na retomada e turismo de curta distância, entre outras ações. Como empresa, ambas tomaram as mesmas medidas do Mercado para manter a operação, capital humano e reduzir custos.